quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Sobre o peso da culpa e o medo da luz!


Olá meu Senhor, aqui estou eu mais uma vez. Descobri que quanto mais fujo de Sua doce presença, mais me deparo com ela. É, eu sei, não há lugar para onde eu possa fugir. Tentei esconder-me nas entranhas das minhas solidões mais tristes, mas se ainda ali existia alguma luz, eras Tu, que amavas a mim, que nem mesmo reconhecia a companhia que me davas. Escondi-me na caverna dos meus medos e ali imaginei que jamais iria encontrar-me. Que bobagem, o Senhor havia chegado lá antes de mim. Hoje estou aqui para lhe dizer que estou cansado de fugir, quero Teus braços. Cansei de esconder-me em minhas trevas, quero Tua luz.  Cansei de caminhar sozinho, quero que estejas comigo em cada próximo passo da minha vida. Neste momento sinto-me em paz, algo que há dias não sentia. É bom saber que posso novamente ter o abraço de Pai sem o peso da culpa e sem o medo da luz.

Thiago Mendes

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Sobre o fim do mundo!


Estamos nos últimos dias. A contagem regressiva já começou. Não há mais tempo para fugas. O mundo vai acabar. Na verdade o mundo acaba todos os dias para cerca de 150 mil pessoas que, esperando ou não, preparadas ou não, são obrigadas a pegar o trem que parte para a eternidade a todo instante, sempre com os seus vagões lotados. O mundo irá acabar hoje e também irá acabar amanhã. Na eminência de o mundo acabar para qualquer um de nós, deixo o conselho de Benjamin Franklin quando disse: “Trabalhe como se fosses viver 100 anos e reze como se fosses morrer amanhã!” Não acredito que o mundo irá acabar como mundo nos próximos dias, mas é claro que ele vai continuar acabando para milhares e milhares de pessoas a cada minuto. Sendo assim, que em nossas vidas não fique nada para fazer depois. Os cemitérios estão cheios de planos não concretizados, de perdões não liberados, de palavras de amor não recitadas, de sonhos não realizados. Que não tenhamos medo do fim do mundo. Mas que quando este fim chegar até nós, estejamos preparados para entrar no trem e partir sem medo de ter deixado para traz algo que deveríamos muito ter feito. Que, segurando a nossa bagagem tímida, subamos no vagão e, olhando pela janela assistamos em paz a vida que deixamos por aqui. Quem vive o agora não teme o porvir!

Thiago Mendes

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sobre os rabiscos escritos no papel!


Às vezes a vida tem se tornado algo arduamente doloroso. Os obstáculos interminavelmente intransponíveis, a agonia de ser obrigada a enfrentar mais um dia, mais uma vida, os sentimentos de dor que surgem e não trazem consigo os seus remetentes, e o pior: tudo isso parece acontecer justamente nos momentos de nossa maior fragilidade.  Todas as vezes que a Mulher de Fé sente-se afogada em meio a todos estes problemas e, sem saber muito bem como resolvê-los, decide que irá transformar obstáculos em histórias. “Desta vez o inimigo soube bem o momento certo de atacar, não é verdade?”, pergunta a sua alma. A Mulher de Fé tenta encontrar alguma luz. “Sim, o inimigo soube o momento certo de atacar”. Ela pega um lápis, uma folha de papel e começa a rabiscar seus sentimentos. Depois de certo tempo, sente-se um pouco aliviada e, ao reler, percebe que escreveu os mais belos versos de sua vida. Talvez amanhã quando se levantar, sua alma estará totalmente em paz, mas os seus rabiscos permanecerão ali. E aí dirá: é, valeu a pena cada sentimento!

Thiago Mendes

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Sobre as lições do vento!


Se eu fosse livre como o vento, não seria tão escravo de minhas carências e, quando não fosse aceito, viajaria sem que percebessem a minha ausência.  Se eu fosse livre como o vento, bailaria sem expectadores e assoviaria a minha melodia preferida sem que outros reprovassem o meu cantar. Se eu fosse livre como o vento choraria com mais frequência e, assim, talvez até os meus sorrisos soassem mais sinceros. Se eu fosse livre como o vento, levaria meu amor para dançar todas as noites e lhe daria tudo aquilo que a liberdade nos permitisse. Se eu fosse livre como o vento, talvez tivesse coragem para arriscar mais, pois assim, não seria tão escravo dos medos que tenho de ser exposto ao ridículo. Se eu fosse livre como o vento, talvez já estivesse respirando outros ares e sobrevoando outros mares. Se eu fosse livre como o vento, talvez desse um pouco mais de mim e sonhasse sonhos mais altos. Mas aqui estou eu, aprisionado com as chaves nas mãos, faminto tendo toda esta fartura, tendo sede com os vasilhames cheios. Ah... Se eu fosse livre como o vento!

Thiago Mendes

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Sobre as lições da terra!


"A terra não faz acepção de pessoas. Nela”, explicava o Soldado da Paz, “todos nós temos abrigo. Ela recebe sementes que ajudarão a escrever o futuro e também recebe os nossos mortos que ajudaram a escrever o passado”.  O pequeno exército está assentado à sombra de uma árvore grande e imponente. “Esta árvore que nos dá gratuitamente o seu abrigo”, continua ele, “um dia chegou a este lugar sendo apenas uma sementinha insignificante. Mas a terra acreditou nela. Alimentou-a. Não cobrou nada por isso. Vejam o resultado”. Um dos homens faz sinal com as mãos. “Mas na prática, o que podemos aprender com as lições da terra?”, pergunta. O Soldado a Paz se espreguiça e volta a falar: “Aprendemos que não podemos desprezar ninguém. Que precisamos estar dispostos a receber os mortos e as sementes. Que cada um, por menor que seja, tem algo de bom a nos ensinar. Quem olha para uma semente com fé, acaba vendo seus frutos e descansando em sua sombra”.  Todos fecham os olhos. É hora de descansar. Irão dormir um pouco e depois lutar, e isto, até que a terra os chame para si.

Thiago Mendes

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sobre as lições da água!


Hoje acordei triste e com medo de acreditar que amanhã as coisas serão melhores. Tenho carregado esta esperança “de que amanhã” há anos e, embora o progresso exista, ele é lento e doloroso. Confesso que estou a um passo das minhas cavernas e, ao mesmo tempo em que me sinto revestido de coragem e ousadia para enfrentar as tantas e tantas lutas desta vida, de repente me encontro como hoje: fraco, indeterminado e covarde. Aí começam surgir aquelas perguntas: “Ei, onde está aquela pessoa alegre e cheia de esperança que sempre nos encorajou?” “Qual será o próximo passo? Estamos apenas esperando uma direção!” Não sei onde está aquela pessoa corajosa e muito menos qual será, ou se realmente haverá um próximo passo. Dobro meus joelhos e vou em busca de respostas. Ouço passos que se aproximam: “O destino das águas de um grande rio é o mesmo daquelas que molham a pastagem pela manhã: ambas, mais cedo ou mais tarde, se encontrarão com o oceano”. Continuo ajoelhado. “Mas o que tem a ver as lições da água com esta angústia que hoje me atormenta tanto?”, pergunto. Não adianta. Não há mais ninguém ali. Talvez isso signifique que eu tenha apenas que confiar em meu destino e acreditar que, mais cedo ou mais tarde, ele me lançará no oceano, e que lá, tudo será melhor, tudo será mais fácil.

Thiago Mendes

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Sobre as lições do fogo!


Álih, o guia espiritual, gastou toda a sua tarde de hoje fazendo uma fogueira. Jávier, seu aprendiz, havia ido à pequena vila fazer compras e quando chegou o velho estava começando a acender o fogo. “Porque precisamos de uma fogueira?” O jovem faz a pergunta, mas passa direto e vai até a cozinha deixar as compras e volta. Está frio, e o velho já se sentou numa cadeira e esfrega as mãos tentando concentrar calor. “Hoje iremos aprender as lições do fogo”. O guia tem os olhos fitos nas chamas que já começam a ficar agressivas. “O fogo”, continua, “é exatamente como a fé e o amor: por maiores e mais excelentes que sejam esses sentimentos em nós, se não forem alimentados, um dia se tornarão apenas cinzas”. O jovem também esfrega as mãos e encolhe o corpo. Álih continua: “Agora as chamas estão flamejantes, mas isso não significa que não precisem ser alimentadas”. Jávier fita seu guia. “E o que isso tem a ver com a vida da gente?” O velho joga mais uma tora de lenha ao fogo e devolve o olhar. “Você está aqui comigo e sua fé e amor estão sendo constantemente alimentados. Mas um dia você partirá, cuide de alimentar para sempre esta chama que foi acesa”. O jovem também pega alguma madeira e joga ao fogo. Vão permanecer ali tirando mais lições até que o sono chegue e a lenha vire cinzas.

Thiago Mendes

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Sobre a face, o tom, e o olhar!


Eram cerca de uma hora da tarde, um calor daqueles, o transito lento e eu parado em um semáforo da Avenida Castelo Branco por onde passo todos os dias. “Ei moço, pode me dar alguma ajuda?” O jovem de boa aparência tem voz educada e surgiu trazendo no rosto um sorriso discreto e aparentemente natural. Eu sempre gosto de ajudar sem olhar para a pessoa, mas confesso que aquele sorriso e educação encorajam-me ainda mais a vasculhar pelo carro em busca de alguma ajuda que pudesse lhe dar. Sempre tem algumas moedas jogadas por ali naqueles buraquinhos do painel, ou mesmo no porta luvas. Mas desta vez não tinha. Não achei nenhuma. Devolvo o sorriso. “Perdoe-me amigo, gostaria de poder ajuda-lo, mas realmente não tem nada aqui. Fico te devendo desta vez”.  O jovem a muda a face, o tom, e o olhar: “Se não tem nada por que me fazer esperar?” Sua voz agressiva e olhar de ira me fuzilam. Respiro fundo. “Senhor, que eu não devolva estas lanças a ninguém”. Fico pensando em como a mediocridade nos faz mudar a face, o tom e o olhar. Que não sejamos assim.

Thiago Mendes

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Sobre a arte de improvisar!


Há coisas em nossas vidas que não são programadas ou geradas: elas simplesmente acontecem. O amor que surge sem maiores explicações, as oportunidades que nem sempre chegam nos momentos em que estamos prontos para aproveitá-las, ou situações que exigem de nós aquilo que não nos julgamos capazes de realizar. E quando o inesperado acontece, as únicas coisas que podemos fazer é estar dispostos a dar o melhor que temos e entregar-nos completamente à arte do improviso. O bom Soldado da Paz sabe que metade de suas guerras foram vencidas com golpes aprendidos durante o combate. “Acredita demais em seu talento”, alguém julga. “Acredita demais em sua sorte”, diz outro. Mas o Soldado da Paz sabe que em nós só é melhorado aquilo que desenvolvemos e que até os improvisos precisam ser treinados e programados. E é assim afia a sua espada e pensa nas possibilidades variadas do combate que vai se iniciar em breve.

Thiago Mendes

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sobre o amigo que disse o que eu precisava ouvir!


Quando eu disse: “Meus sonhos acabaram, não sei mais o que fazer”. Ele respondeu: “Volte a dormir, os sonhos voltarão e amanhã terá a chance de realiza-los!” Quando eu disse: “Estou com medo”. Meu amigo me abraçou e disse: “Estamos juntos e é assim que iremos superar este momento”. Quando tive fome e murmurei necessidades meu amigo permaneceu ali: “Tome a metade do meu pão. Vamos comer e esperar”. Quando senti que a minha fé estava abalada... “Você se lembra de tudo que já enfrentamos e vencemos no passado?”, perguntou. Sim, eu me lembrava e não era necessário ouvir mais nada. Quando imaginei que a vida era mais difícil para mim do que para todas as demais pessoas do mundo, meu amigo me advertiu. “Não permita que suas necessidades te ceguem para as necessidades dos demais”. Aquela lição veio em uma boa hora, antes que eu estivesse totalmente mergulhado em meus egoísmos.  Foi aí que descobri que um amigo verdadeiro vale mais do que mil tesouros.

Thiago Mendes

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Sobre equívoco e estilo!


José, o jovem pastor de Zoar, conhecia bem o seu rebanho.  Ele sabia que a primeira coisa que uma ovelha ferida ou doente faz é esquivar-se do bando. “Talvez desejem fugir para não mostrar a fraqueza às demais, ou pode ser que se sintam indignas do rebanho”, pensava consigo mesmo. José aprendera a arte de pastorear com o seu pai e procurava manter as tradições: “Quando uma ovelha começa a se afastar do grupo”, ensinara o pai, “é sinal de que algo não está bem com ela. A missão do pastor é trazê-la para perto, curar suas feridas, e mostrar-lhe que mesmo machucada, ela continua sendo importante”. E José fazia de tudo para manter o seu rebanho unido e sadio. Não tinha mais ovelhas do que sabia que era capaz de cuidar. Colocara nome em cada uma delas porque sabia que eram únicas. Claro, às vezes o pastor cometia erros e seu rebanho acabava sendo afetado, mas logo se concertava e a paz era restituída. “O segredo”, confessava ele às ovelhas enquanto descansavam a caverna, “é não permitir que os nossos erros criem raízes. Aí deixariam de ser equívocos e passariam a ser estilo”.

Thiago Mendes

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Sobre uma receita simples e infalível!


A Mulher de Fé decidiu que hoje irá surpreender o seu amor. Levantou-se mais cedo, cumpriu todos os seus deveres e depois de ele ter saído para o trabalho, retirou seu velho caderno de receitas da gaveta. E ali, escolheu a que mais agradava o seu amor. Era simples: alguns ovos, farinha de trigo, pitada disso e daquilo, vai ao forno e, pronto. Agora irá preparar seu universo para recebê-lo logo mais. E para isso sabe que precisa esquecer-se um pouco das pressões da vida, do peso das obrigações, das cobranças que faz a si mesma e a todos. Um bom banho, o perfume que sabe que ele adora, a roupa que ganhou de presente no último aniversário e agora o desafio é fazer de tudo para que o sorriso sege sincero e que um pequeno detalhe não estrague tudo. Irá manter o controle de suas emoções, saberá lhe dar com a situação caso ele não perceba de imediato que está tudo preparado para os dois e assim, com certeza, terão uma noite maravilhosa reservada apenas para eles. A Mulher de Fé sabe que esta é uma receita simples para fazer da vida e do amor algo muito mais gostoso. “O grande problema é que nem sempre estamos dispostas e procurar o velho caderno de receitas”, pensa enquanto termina o seu batom. Já é tarde, seu amor deve estar quase chegando e ela não quer que um pequeno ingrediente estrague tudo.

Thiago Mendes

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Sobre quando o problema está na fonte!


Quando tudo está dando errado o Soldado da Paz sabe que a primeira coisa que precisa fazer é olhar para si mesmo. “Se a fonte estiver amarga, o rio inteiro também estará”, ouvira de seu mestre. Eis o problema! É impossível que as coisas deem certo, se a direção seguida estiver errada. Talvez este seja o momento de parar um pouco de buscar resultados para rever o caminho. Chega de jogar pedras e procurar culpados. O problema está na fonte. Aí descobre que tem usado muita força e pouca fé e tem acreditado mais em seus braços que em suas preces. A fonte está contaminada. É hora de tirar entulhos, reconhecer fraquezas e acreditar na força do invisível. Pouco a pouco sente que o seu interior se torna cristalino. Logo todo o resto terá sido purificado e os resultados normalmente voltarão.

Thiago Mendes

Recomeço!

Nunca é o fim. A vida que resta, sempre absorve os destroços e dá um jeito de prosseguir. Você já passou por muita coisa e, em todas elas, s...