Tudo nessa vida é emprestado, usual, casual, transitório, passageiro, efemeramente temporal, enfim - somos inquilinos prestes a sermos despejamos de mãos abertas e vazias. Não há escrituras, relações afetivas ou ocupações que sejam suficientemente capazes de fazer desta passagem, uma estadia. A gente adia, se agarra, se remenda, mas chega o momento em que não haverá mais jeito. A verdade é que não há nada para o que ou para quem - que tenhamos o direito de dizer: “é meu”. Mesmo a melhor das intenções; as mais íntimas e sinceras relações; os mais sólidos juramentos, os melhores mandamentos - tudo irá passar. Retroagimos da existência para histórias, até que as reverberações de nossa passagem aqui se reduzem a meras lembranças e, por fim, seremos esquecidos; todos nós seremos. Pelé, Ayrton Senna, Michael Jackson – um dia todos desaparecerão dos museus, dos papéis e das lembranças – mesmo que isso demore alguns milhares de anos. Na vida nós só temos o momento. O resto é hipótese, é suposição. Precisamos entender que não temos nada por aqui. Tudo que usamos é empréstimo, casualidade, transitoriedade e, mesmo que tenhamos relações afetivas muito sinceras com tudo isso, um dia – cedo ou tarde, não mais nos será possível “possuir”.
Thiago Mendes