Jávier, o aprendiz, tem vivido muitos conflitos nos últimos dias. Sente saudades de casa, avalia se realmente fez a coisa certa quando partiu em direção as montanhas para estudar o Caminho Sagrado e agora começa a pensar na possibilidade de ir embora. Álih, seu guia, o observa de longe. Não quer interferir nas decisões do rapaz, mas talvez possa ajudá-lo sem dizer nenhuma palavra. O velho se levanta, caminha até o jovem e lhe estende os braços. Jávier parece não entender muito bem, mas também caminha em direção ao guia e os dois se abraçam longa e calorosamente. Ambos choram, mas não trocam uma palavra sequer. Mais tarde, na hora do jantar, o rosto do rapaz parece alegre e sem as ideias negativas de antes. “O que o senhor fez comigo?”, pergunta sorrindo. “Nada”, o velho responde terminando de morder sua coxa de frango. “É que há abraços que ultrapassam o nível da cordialidade, penetram a alma e são capazes de alimentar o nosso espírito. Você estava faminto, mas foi alimentado”. Os dois prosseguem no jantar. É hora de alimentar o corpo.
Thiago Mendes