Álih, o guia, e Jávier, seu aprendiz, estão sentados na porta da tenda observando as montanhas. “O senhor não tem muitos amigos próximos”, diz o jovem. “As pessoas vêm até aqui, pedem seus conselhos, te dão presentes e vão embora sem criar vínculos. Isso não te incomoda?”. O velho dá um leve sorriso e aponta na direção das montanhas. “Antigamente as pessoas diziam que os deuses habitavam aqueles montes”, inicia. “Ninguém ousava subir lá em cima, pois isso poderia deixá-los irados. Essa crença manteve a ordem por muitas gerações. Até que alguém desafiou os deuses e escalou as montanhas. O pior aconteceu: o homem desceu vivo e disse que não viu nenhum deus por lá”. O jovem estava gostando da história. O velho pigarreou antes de prosseguir: “Depois do episódio, as pessoas passaram a não se respeitarem mais. Diziam que os deuses não existiam e que todos poderiam fazer o que bem entendessem. Até que outra pessoa se levantou: ‘Os deuses existem, mas por causa de nossos pecados, deixaram de habitar os montes e agora estão morando nos Céus’, proclamou. Depois disso a ordem voltou, os deuses não”. O jovem fica em silêncio por alguns instantes, depois resolve falar: “Mas o que é que tem a ver a distância que mantém das pessoas com os deuses da montanha?” O velho sorri. “Se até os deuses precisam manter distância para que a ordem prevaleça, imagine nós, pobres pecadores. É preciso manter o mito, para manter a ordem!”.
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