Álih,
o guia,
está de
malas prontas.
Irá passar
um mês
na cidade
e durante
todo este
tempo Jávier,
seu aprendiz,
terá que
cuidar de
tudo sozinho.
“Preste atenção
nos detalhes”,
recomenda o
velho quando
está saindo.
“Antes de
se lembrar
que é
preciso alimentar
os animais”,
disse ainda,
“não se
esqueça que
é preciso
alimentar o
seu espírito
todos os
dias. Se
o seu
espírito estiver
alimentado, todas
as demais
tarefas se
tornarão mais
fáceis”.
O velho
foi caminhando
com a
sacola na
mão até
sumir entre
as montanhas.
No primeiro
dia Jávier
ficou eufórico.
Cuidaria de
tudo perfeitamente:
deixaria a
cabana sempre
bem arrumada,
alimentaria os
bichos, cortaria
lenha, molharia
a orta
duas vezes
ao dia
e, claro,
no final
das tardes
pescaria alguns
peixes para
o jantar.
Com os
dias, Jávier
vai percebendo
que o
que está
fazendo é
apenas ocupar
o lugar
de um
velho solitário
que, apesar
de sábio
resolveu covardemente
esconder-se atrás
das montanhas.
“E se
ele nunca
mais voltar?”
“E se
estiver usando-me
apenas para
fugir das
responsabilidades que
são dele?”
O trabalho
que era
feito com
alegria se
transforma em
uma rotina
torturante: alimentar
animais sempre
famintos, varrer
um quintal
que não
se cansa
de se
encher de
folhas, molhar
uma orta
sempre seca
e no
final do
dia ter
que pescar
peixes que
nunca aprendem
a velha
lição que
diz: “se
é fácil
demais, desconfie”.
Jávier pensa
várias coisas:
em fechar
a cabana
e partir,
soltar os
animais, esperar
o velho
chegar -
se é
que ele
chegará algum
dia – e
abrir o
jogo sobre
sua desilusão
com aquela
vida. Faltam
apenas dois
dias para
a chegada
do guia
e o
aprendiz percebe
que fracassou.
Está tudo
desordenado. Ele
se lembra
do que
Álih disse
antes de
partir: “Se
o seu
espírito estiver
alimentado, todas
as demais
tarefas se
tornarão mais
fáceis”.
Ele parece
ouvir a
voz doce
do velho
repetindo as
mesmas palavras.
Esqueceu-se do
principal. Ele
se ajoelha,
medita em
tudo que
já aprendeu
até aqui,
lê os
textos sagrados,
e descobre
que do
lado de
fora continua
do mesmo
jeito, o
problema é
que não
alimentou o
seu espírito
e acabou
por perder-se.
Ele volta
ao trabalho
e enquanto
molha a
orta no
final da
tarde, enxerga
o guia
aproximando-se ainda
longe e
já ouve
a melodia
suave de
seu assovio.
Ele quase
fracassou, mas
descobriu que
o segredo
para realizar
bem as
nossas tarefas
nem sempre
está na
habilidade, mas
sim, em
um espírito
bem alimentado.
Thiago
Mendes
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