quarta-feira, 8 de julho de 2009

Bazar de Satanás


Como precisa adaptar-se aos novos tempos, Satã resolveu fazer uma liquidação de grande parte de seu estoque de tentações. Colocou anúncio no jornal, e atendeu os fregueses, em sua oficina, durante todo o dia.
Era um estoque fantástico: pedras para virtuosos tropeçarem, espelhos que aumentavam a própria importância, óculos que diminuíam a importância dos outros.
Pendurados na parede, alguns objetos chamavam muita atenção: um punhal de lâmina curva, para ser usado nas costas de alguém, e gravadores que só registravam fofocas e mentiras.
“Não se preocupem com o preço!”, gritava o velho Satã aos fregueses em potencial. “Levem hoje, paguem quando puder!”
Um dos visitantes notou, jogado num canto, duas ferramentas que pareciam muito usadas, e que pouco chamavam a atenção. Entretanto, eram caríssimas. Curioso, quis saber a razão daquela aparente discrepância.
“Elas estão gastas porque são as que eu mais uso”, respondeu Satã, rindo. “Se chamassem muito a atenção, as pessoas saberiam como se proteger. No entanto, ambas valem o preço que estou pedindo: uma é a ‘dúvida’, a outra é o ‘complexo de inferioridade’. Todas outras tentações sempre podem falhar, mas estas duas sempre funcionam”.

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