Álih, o guia, e Jávier, seu aprendiz, estão do lado de fora da cabana conversando e observando o céu. “Eu sempre tive muito medo da morte”, diz o rapaz. O velho respira fundo como quem buscava ar, tempo e palavras: “Todos nós temos medo do desconhecido”, diz. “Um dia, provavelmente no meu caso isso não deve demorar muito, o barco irá parar ali em baixo, no rio Allipén, e uma voz me chamará. Mesmo com medo terei que descer calmamente, entrar no barco e seguir viagem. Aí serei obrigado a acreditar na bondade destas águas e na bondade de Quem escreveu o seu curso”. O velho busca fôlego mais uma vez e se ajeita no banquinho de madeira: “A morte tem muitas faces, rapaz”, ele recomeça, “e a maneira como decidimos enxergá-la fará toda a diferença no curso do rio que um dia nos levará. Não devemos viver com nossas almas agitadas, preocupados com o que será do amanhã. Nós precisamos apenas confiar que Quem pensou tudo isso sabia bem o que estava fazendo, que somos resultado de um amor inexplicavelmente maior e que há um sentido nesta breve passagem por aqui”. O rapaz se mexe: “O senhor acredita mesmo que há um sentido?”. O velho sorri, franze a testa e se levanta. “Já é tarde, meu rapaz. Vamos dormir. Amanhã há muito trabalho a ser feito”.
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