“Amor, eu estou com medo”, disse ela me abraçando por trás de um jeito que sempre adorei. “Fique calma, não se preocupe, eu estou aqui com você”, respondi sentindo o cheiro do perfume que eu adorava, como se a minha presença mandasse para bem longe todos os nossos problemas. Logo eu, com esse meu corpinho frágil – quase inexpressivo. Mais ali, confesso que me sentia um herói – capaz de protegê-la e de manter a paz, mesmo que o mundo inteiro desabasse de uma vez. Fecho os olhos e imagino a noite lá fora. “Deve estar linda”. A cidade solitária, a lua cheia que assiste quieta ao que acontece aqui em baixo. Ela que parece saber de tudo, mas prefere não se meter em nada. É bela, serve de inspiração a poetas solitários, ajuda nas coisas do amor, mas se mantem assim: quieta, como se o mundo aqui em baixo não a observasse. “Do que você tem medo, meu amor?”, finalmente pergunto na certeza de que o meu “fique calma, não se preocupe, estou aqui com você”, não era o que ela esperava de mim naquele momento. Um breve silêncio se instala. Tempo suficiente para que eu também sentisse medo. A respiração dela mudou. A coberta que antes parecia incapaz de nos aquecer, agora sobrava. “Tenho medo de jamais ser mãe”, disse ela em um tom distante, como se falasse consigo mesma... (E assim começa “O Caminho Sagrado”, que será lançado em novembro. Espero que gostem).
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