O Soldado da Paz caminhou sozinho durante mais de dois
dias até que avistou um lugar chamado Vila das Flores. A vila
pequena, cortada ao meio pela estrada, é cheia de vendedores e
vendedoras de flores de ambos os lados. “Deseja flores rapaz?”. O
Soldado da Paz para e fita a moça com voz doce olhos sedutores. “Não
tenho ninguém a quem eu possa entregá-las. Elas são lindas, tem um
perfume delicioso, mas não saberia como usá-las. Além disso, não
tenho dinheiro”. A moça mantém o sorriso tímido. “Você parece
forasteiro, de onde vem?” O Soldado da Paz tenta não olhar nos
olhos da moça, o que a cada segundo se torna mais difícil. “Sou
guerreiro, vivo nas estradas, abandonei meu grupo para encontrar o
sentido da minha vida”. A moça fica em silêncio apenas por alguns
segundos. “Achei que as batalhas fossem o sentido da vida de um
guerreiro. Vivendo ou morrendo, de qualquer maneira, o que importa é
que se tenha cumprido a sua missão”. O Soldado da Paz não pareceu
afrontado. “E você, o que faz além de vender flores?” A jovem
sorri. “Um guerreiro sempre tem histórias incríveis”, diz ela.
“Eu não, a única coisa que faço é esperar que alguém passe e
se interesse pelas flores, e as leve”. O Soldado da Paz diz algo
sem saber porque. “E quando alguém se interessa pela vendedora ao
invés das flores, também pode levá-la?” Ela faz sinal que não.
“Minha missão, por mais simples que seja, está aqui. Sou feliz
fazendo do mundo um lugar mais belo e perfumado. Leve as flores de
presente e tente mantê-las vivas dentro do seu coração. Eu ficarei
aqui esperando que você volte. E você, siga seu caminho esperando
que eu lhe alcance. Ambos sabemos que isso jamais irá acontecer, mas
podemos manter viva esta esperança”. O Soldado da Paz pega o buquê
e parte. “Ei rapaz, quer flores?” Mas desta vez não é com ele.
Talvez seja mais um soldado fugindo do seu destino.
Thiago
Mendes
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