Às vezes o Soldado da Paz se sente tão frágil e
decepcionado com o seu passado que, para ele, chorar se torna
impossível. Passou a ter lágrimas de vidro. Nestes momentos alguém
bem intencionado se aproxima: “O que está acontecendo com você?
Sentimos falta de seu brilho e da alegria com a qual sempre contagiou
a todos”. Mas o problema não está nos olhos que choram lágrimas
sólidas e cortantes, e sim, no coração que acabou por se
petrificar. O Soldado da Paz se justifica. “Tornei-me incapaz de
confiar nas pessoas. Já fui traído no passado e agora tenho medo
de que tudo aconteça outra vez”. O amigo põe as mãos em seus
ombros. “Esqueça o passado”, diz, “sempre poderemos
recomeçar”. O Soldado da Paz começa a sentir seus olhos arderem.
“Está doendo, não serei capaz de perdoar”. O amigo o abraça.
“Cada pessoa que liberar do seu passado tornará suas lágrimas
mais leves. Perdoe”. Os ombros do amigo vão se enchendo de vidro e
sangue, até que milagrosamente as lágrimas começam a voltar. O
Soldado da Paz se permite. O amigo estava certo: o perdão
despetrifica o coração e traz de volta as lágrimas que lavam a
alma. O guerreiro está novamente limpo e preparado para o combate.
Thiago
Mendes
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