Jávier
acordou entediado. O jovem aprendiz se dizia insatisfeito com o que
tinham para viver e que se achava merecedor de mais conforto.
“Comemos quase sempre as mesmas coisas, meu colchão é feito de
palhas, e a cabana é muito simples, eu jamais teria coragem de
trazer um amigo até aqui”, murmurava. Álih, o guia, o observa em
silêncio.“E além do mais”, prossegue, “é necessário lembrar
que abri mão de muitas coisas para estar aqui”. O velho dá um
longo suspiro e sem dizer palavra vai até a cama de Jávier e tira
todas as palhas do colchão e as joga dentro da fornalha. Em seguida
pega seu prato, vai à fornalha, retira comida para si, e joga todo o
resto aos cães. “Está louco?” Jávier parece indignado. “Onde
irei dormir agora? O que irei almoçar?” O guia tem olhar
desapontado. “Um homem que não é capaz de ser grato à cama onde
dorme e à comida que come, não pode ter direito a elas. E além do
mais”, prossegue depois de uma breve pausa, “tem coisas em nossas
vidas que só aprendemos a valorizar, depois de perdê-las. Hoje você
está sem comida e sem lugar para dormir. Tomara que até amanhã já
tenha aprendido sobre gratidão, valor e merecimento”. Jávier não
responde nada. Talvez tenha aprendido a lição.
Thiago
Mendes
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