A
noite parece ter chegado mais cedo hoje. Está chovendo muito lá
fora. O vento frio, o cheiro de terra molhada, o baile das árvores
que dançam com o vento celebrando a chegada da chuva. “O que está
fazendo na janela filho?”. A voz de Álih, o guia, é paternal e
moderada como sempre. Jávier, seu aprendiz, espera alguns segundos,
respira, e fita os olhos do mestre. “Estou observando como as
gotinhas de chuva se unem para que mais uma vez a vida floresça”.
O velho também caminha até a janela e estende uma das mãos para
sentir a chuva. “Ninguém pode fazer nada sozinho nesta vida. Uma
gota de chuva parece ser algo tão insignificante, mas alguém lá em
cima deve organizá-las para que venham juntas, molhem a terra e
façam toda a diferença”. O jovem sorri. “Elas têm uma missão
e sabem que precisam umas das outras para vê-la se cumprir. Acho que
nós não temos permitido ser ordenados por este alguém que mora lá
em cima. Estamos sempre querendo fazer tudo sozinhos, por isso, mesmo
aplicando muito esforço, os resultados nem sempre são o que
esperamos”. Os dois se calam e continuam ali. Agora a palavra está
com a chuva que fala suave no tom de quem se uniu para o bem da vida.
Thiago
Mendes
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