Está
frio hoje. O Sol ainda nem nasceu entre as montanhas e Jávier, o
aprendiz, está sentado à mesa da cozinha e já repetira a mesma
frase em tom baixo e respeitoso por dezenas de vezes: “Eu quero ser
cheio de Deus!”. Álih, o guia, o ouve enquanto prepara o chá. “Eu
quero ser cheio de Deus”, o rapaz continua resmungando sem parar. O
guia suspira fundo. “O chá está pronto, mas não posso servi-lo.
Ontem você não cumpriu sua tarefa de lavar as louças. Algumas
estão sujas e outras cheias”. O rapaz pede desculpas, se levanta,
vai rápido à pia e lava todas as xícaras. Os dois sentam-se de
frente um para o outro na mesa. O velho fita o rapaz enquanto serve:
“O chá está pronto, mas nem sempre nossas xícaras estão
preparadas para recebê-lo. Não adianta querer ser cheio de Deus se
seu interior não está preparado para abrigá-lo. Lave seu coração
todos os dias, esvazie-se, deixe as louças do seu interior sempre
preparadas e, no momento certo será cheio”. Jávier sente o cheiro
da fumaça que sai do chá e dá o primeiro gole entre resmungos:
“Senhor, limpa-me para que eu possa recebê-lo em meu coração”.
Thiago
Mendes
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