Álih, o guia, sempre usou um tom sereno para se comunicar com
seu discípulo, o jovem Jávier. Suas palavras mansas, pacientes, compreensivas,
sempre chegaram aos ouvidos do aprendiz de maneira suave. Mas o velho guia
parece não estar muito bem hoje. “Que noite horrível”, foram as suas primeiras
palavras da manhã. “Hoje não estou com muita paciência, portanto traga logo
meus biscoitos”. O velho pela primeira vez em anos parecia arrogante e
estressado. “Olha Jávier”, continuou, “de uns tempos para cá você não tem
evoluído absolutamente nada. Tenho medo que fique por aqui durante anos sem que
aprenda as verdades mínimas para enfrentar a vida. Você é meio devagar”. O
jovem respira fundo, traz os biscoitos e assume a culpa. “O senhor é um grande
mestre, tem se dedicado totalmente a mim, e se não tem visto evolução, diga-me
o que tenho que fazer. Me esforçarei ao máximo”. O tom do rapaz era de
submissão e humildade. “Tudo bem, filho”, a voz do guia volta ao normal. “Só estava tentando desvendar o que pensa
sobre mim. Lembre-se: você jamais saberá o que alguém pensa a seu respeito
agradando-a. Alfinete-a, humilhe-a, aí sim, ela dirá o que pensa a seu respeito
e não aquilo que você gosta de ouvir. Vamos, rápido, temos muito trabalho hoje”.
Thiago Mendes
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